Está em andamento nas escolas municipais Manoel Pereira da Cunha (Comunidade Ingrácia) e Erisson Pereira Silva (Comunidade Capitão), em Juruti Velho, o projeto “Contos da Terra e da Gente”, uma iniciativa que une educação, memória e cultura popular para preservar as lendas e causos contados por moradores mais antigos da região.
Coordenado pelo professor Udirley Andrade – jornalista, mestre em Letras e especialista em Língua Portuguesa – o projeto envolve cerca de 60 alunos do 6º ao 9º ano, que estão realizando entrevistas em vídeo com os mais velhos das comunidades Ingrácia, Nova Macaiani, Nova Conquista, Novo Horizonte, Capitão e Boa Vista. O objetivo é registrar, por meio do audiovisual e da escrita, narrativas que fazem parte da identidade e da história local.
“Esse projeto nasce de uma urgência: registrar antes que desapareça. As lendas, os causos, as histórias contadas à beira do fogão ou da canoa estão sumindo – e com elas vai embora uma parte da alma das nossas comunidades. ‘Contos da Terra e da Gente’ é uma forma de dizer: isso importa, isso tem valor, isso precisa ser contado de novo, por novas vozes”, destaca o professor.
Juruti Velho é um território ribeirinho banhado pelo majestoso Lago Juruti Velho, cercado por matas densas e cenários de beleza singular. Uma região rica em imaginário popular, onde as lendas se misturam ao cotidiano e os causos vivem nas conversas de fim de tarde. No entanto, quase nada disso foi registrado. São histórias que resistem no tempo apenas pela força da oralidade, ameaçadas de desaparecer com o silêncio dos seus últimos contadores.
Após a coleta dos relatos, os estudantes irão transcrever, ilustrar e editar as histórias, transformando esse acervo oral em um e-book. Além disso, os vídeos das entrevistas serão editados e publicados em plataformas digitais, permitindo que pessoas de outras regiões também conheçam esse valioso patrimônio imaterial amazônico.
O projeto visa, além da preservação cultural, o fortalecimento da leitura, da escrita, da oralidade e da pesquisa como práticas educativas e criativas.
Com previsão de conclusão até outubro deste ano, a culminância do projeto será realizada no encerramento do ano letivo de 2025, com o lançamento do e-book e a exibição dos vídeos nas escolas, em um evento aberto à comunidade.
A iniciativa conta com a participação direta das famílias e moradores locais.
O professor Udirley acrescenta ainda que “a participação dos alunos é o coração dessa iniciativa. Eles pesquisam, entrevistam, escutam, escrevem e gravam. São protagonistas do começo ao fim. E ao fazerem isso, estão desenvolvendo leitura, escrita, oralidade, mas, sobretudo, estão aprendendo a valorizar quem eles são e de onde vêm. É um projeto simples, sim. Mas que carrega uma potência enorme: a potência de manter viva a nossa memória ribeirinha. E de fazer com que ela ecoe longe, por outras margens, por outras telas, por outros olhos curiosos que ainda não ouviram as histórias do nosso povo”.
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