Ações integradas da Polícia Federal resultam em apreensões, prisões e fechamento de áreas de extração, destacando a degradação ambiental e o impacto social da mineração clandestina no Pará.
Quando o verde da floresta é rasgado por máquinas e dragas ilegais, não é apenas a paisagem que sofre - é todo um ecossistema e a vida das comunidades indígenas que vivem na região. Nos últimos anos, a Terra Indígena Apyterewa, no Pará, tem sido palco de uma forte atuação das forças federais contra o avanço do garimpo ilegal, revelando um quadro preocupante de degradação ambiental, exploração irregular e precariedade das condições humanas, exigindo intervenções rápidas e contundentes.
Nesta sexta-feira (8), a Polícia Federal deflagrou a Operação Cupim de Aço, cujo foco principal foi desarticular a estrutura financeira que sustenta a mineração clandestina de cassiterita ao redor da Terra Indígena Apyterewa. Cinco mandados de busca e apreensão foram cumpridos em dois estados: Pará e Tocantins. Nas ações, foram recolhidos diversos materiais que servirão como prova para aprofundar as investigações, incluindo mídias digitais, veículos, joias e armamentos. Um dos alvos foi preso em flagrante no Tocantins por porte ilegal de arma de fogo. "A investigação teve início após a identificação de degradações ambientais na região, por meio de monitoramento remoto da Polícia Federal", destacou a corporação.
O levantamento inicial, realizado com auxílio de tecnologia de monitoramento por satélite, possibilitou a localização exata das áreas em que o garimpo ilegal estava em atividade. A partir disso, a polícia conseguiu identificar os proprietários das áreas exploradas, que atuavam como financiadores, além do arrendatário que realizava a extração mineral clandestina. Agora, além do processo criminal que se encaminha, as investigações buscarão dimensionar o impacto ambiental causado e identificar outros possíveis pontos de extração e envolvidos no esquema.
OPERAÇÃO EM 2024 FECHOU GARIMPOS ILEGAIS
Essa operação está alinhada a um esforço maior que vem sendo realizado desde julho de 2024, quando a Polícia Federal, em parceria com o Ibama, deflagrou a Operação Aurum Protectio, que resultou no fechamento de seis garimpos ilegais que exploravam ouro e cassiterita simultaneamente na região do distrito da Taboca, município de São Félix do Xingu, bem próxima à Terra Indígena Apyterewa. Naquele momento, foram apreendidas e inutilizadas máquinas pesadas, como escavadeiras hidráulicas, motores estacionários e caixas de coleta de minério. A inutilização desses equipamentos, prevista em lei, visa impedir que sejam reutilizados em atividades ilegais.
Durante as ações da Operação Aurum Protectio, trabalhadores foram encontrados em condições bastante precárias: barracões improvisados com lona, ausência de paredes ou portas, banheiros inadequados e água imprópria para consumo. Apesar da denúncia inicial de trabalho escravo, esta não foi confirmada após as investigações. No entanto, o cenário revelado chamou atenção pelo estado de vulnerabilidade dos trabalhadores e pela precariedade da situação. Os responsáveis pelos garimpos foram identificados e responderão não só por crimes ambientais, mas também pela usurpação de bens da União. Ninguém foi preso naquela ocasião, mas as medidas legais seguem em curso.
DETERMINAÇÃO DO STF
Ambas as operações fazem parte de uma série de iniciativas da Polícia Federal em Redenção/PA, que buscam cumprir a determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) na ADPF 709/2020, que ordenou a desintrusão das terras indígenas Apyterewa e Kayapó. Essas ações são fundamentais para combater a exploração ilegal, que além de degradar o meio ambiente, impacta diretamente a vida e a cultura dos povos indígenas que habitam a região. "Os crimes comprometem não apenas o meio ambiente, mas afetam diretamente os habitantes das comunidades indígenas", reforçam as autoridades.
O desafio não é pequeno. A exploração ilegal de minérios em áreas protegidas contribui para o desmatamento, contaminação dos rios por mercúrio e outros poluentes, além de fomentar redes criminosas que movimentam milhões e operam com impunidade. Por isso, as forças de segurança ampliam o monitoramento e as ações de repressão para tentar frear esse avanço. A proteção das terras indígenas e a preservação do meio ambiente amazônico continuam na linha de frente das prioridades do governo e das instituições de fiscalização.
Autor: Sales Coimbra
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